Sentada numa poltrona de avião, em direção à Bienal do Livro do Rio, observo pela janela a paisagem reduzida à condição de miniatura.
Na fileira à minha frente, um casal. Pelo vão das poltronas me chama a atenção a orelha do homem. Não uma orelha qualquer. Enorme, esparramada, impondo sua presença.
Volto a cabeça para a janela. A praia, daqui de cima, parece uma pintura; estática, com ondulações escuras e pinceladas brancas. Num quadro, me pareceriam artificiais demais. Fixo o olhar nas ondas. Congeladas. Olho um pouco mais atrás, para as ruas. Com esforço consigo perceber o movimento dos carros. Por que não o das ondas? Cismo com a frigidez das vagas. Impossível não perceber a eterna incerteza do mar, no seu ir e vir.
Seria por estarmos passando rápido demais sobre elas? Sempre fui péssima em física.
Se percebo o movimento dos carros, como não conseguir ver a turbulência das águas?
Calculo que a velocidade de um veículo numa estrada é de aproximadamente noventa quilômetros por hora. Se uma onda tivesse essa velocidade, mataria qualquer banhista. Concluo que essa seja a questão. Velocidade do avião, somada a dos objetos abaixo.
Olho para frente.
A orelha me incomoda. Se move mais que as ondas. Ocupa todo o espaço do vão.
O marido fala o tempo todo, olhando para a mulher.
A orelha me encara.
Imagino se passaria desapercebida em um homem lindo - que não é o caso.
Duvido muito. Sem contar que, sendo seu dono um cidadão de meia idade, ela ainda crescerá muito mais. Nariz, queixo e orelhas crescem com a velhice, sabiam?
Sempre que vejo um jovem muito narigudo me pergunto como ficará quando velho...
Se ao menos a orelha não me incomodasse tanto, não precisaria ficar olhando peja janela, e não ficaria me questionando sobre o porquê do mar estar brincando de estátua.
Da próxima vez que for embarcar, vou pedir um assento na primeira fila, ou atrás de alguém de orelha pequena.
bjo,
dany
quarta-feira, 16 de setembro de 2009
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Danny: achei ótima, mesmo não sendo um entendido em literatura, a cronica tem que entreter e talvez divertir. Parabens !!!
ResponderExcluiredi.
Muito boa. Mas mesmo com orelhas pequenas, olhar pela janela é sempra mais divertido do que para dentro. Não sabia que do alto, o mar congela. Interessante. Preciso voar mais. Bjs!
ResponderExcluirDanny: Adoro ler suas crônicas...parabéns!!
ResponderExcluirVera
Gostei!
ResponderExcluirBeijos,
Gica
Queridos,
ResponderExcluirque bom que gostaram.
Me anima a escrever mais...
bjos,
dany
Bem legal Dany, adoro crônicas! Beijocas da Ana Mello.
ResponderExcluirDany querida
ResponderExcluirFico muito feliz pelas atitudes ousadas que tens.
Ninguém pode falar que ,"quando acordada", mesmo de longe, percebe-se teu movimento automotivo, a não sei quantos km por hora,porque ,da licença, mas dormindo brincamos de mar,nos fingimos de estátua e nossos ouvidos viram gigantes para nossos sonhos e fantasiamos... e vivemos um mundo
deliciosamente à parte. Parabéns, bjsss Lays
Dani Gomes, linda mãe de três filhos lindos, sua obra principal...
ResponderExcluirUm dia, em minha vida, era muito jovem, menina mesmo, e inconseqüente pelo caráter ainda em formação, pedi a uma professora amada que escrevesse uns versinhos, pois eu gostaria de entregá-los ao homem por quem estava apaixonada. E ainda estou, depois de mil anos de Vida...
Pois bem, enriquecidas as palavras com um afago em minha cabeça, a amada mestra disse: "Não farei isto, você pode escrever os seus próprios versos... Apenas diga o que sente o seu coração..."
Dani, querida, fiz isto. Ainda agora eu faço. A professora amada era a nossa poeta maior, Helena Kolodi. E o objeto do meu amor, que perdura, era o seu tio avô, João de Azevedo Barbosa Ribas Filho, tio de sua mãe Celinha, irmão de José Maria, seu avô...
Nunca mais deixei de escrever o que sentia e o que sinto. Só o que sinto...
E como existe certa reverência, receptividade, amorosidade e respeito entre escritores, conhecidos, divulgados ou não, mando para você o meu beijo caloroso de tia, como sempre me senti em relação aos sobrinhos da família do meu marido, ainda que nosso sangue seja diferente...
Mas, sabe, Dani, não é diferente a emoção sentida por TUDO o que nos desperta a Emoção... Eis o principal foco que retrata meu próximo livro: Efervescência em Ebulição.
Sua crônica despertou minha emoção...
Efervesça, portanto, na ebulição deste mundo da escrita... Seja ele expresso por Blogs, Links, Web sites, livros físicos, mundo cibernético ou não, tenha muito boa sorte, Dani. Meu imenso carinho para você!
Ainda me aborreço com o tamanho das orelhas do cidadão mencionado, tão perfeitamente foram elas detalhadas... Estou a ve-las.
isabel Sprenger Ribas
Só tenho a agradecer tanto carinho....
ResponderExcluirAssim vou acabar me achando!
beijo,
dany
Oi amiga, parece que estou vendo vc falar, é o teu jeito, em palavras. Muito boa ! Esperamos estar juntos por muitos anos, e vc poderá conferir a sua teoria sobre nariz com a "Paçoca", rsrs. Aproveite muuiito por aí ! Torcemos por vc no concurso !
ResponderExcluirBjs aqui da turma !
Rosana
adoro te observar observando linda amiga irmãaa bjs The
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