Mostre-me um exemplo Profissão: Mãe!: Oficina de Romance - Antônio Torres

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Oficina de Romance - Antônio Torres

Dando continuidade às DEFINIÇÕES de romance:


11 - “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus”.
Assim começa o Evangelho Segundo São João. Para nos dizer que o dom da palavra é uma graça  divina. Ao dar fala ao homem, Deus o teria distinguido no reino animal. Afinal, Ele o criara à sua imagem e semelhança.
“E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito Pai, cheio de graça e de verdade”.   
    
Recorro a este memorável texto bíblico por dois motivos.
Primeiro, pela sua beleza literária. Segundo: considerada o livro dos livros, o mais lido de todos os tempos no mundo ocidental, a Bíblia é um caso exemplar de fabulação, a começar pelo Primeiro livro de Moisés chamado Gênesis, o mito dos mitos, que verdade científica alguma conseguiria suplantar no imaginário humano.
Revisitemos o seu início, ainda que tão somente pelo prazer de reler o mais admirável de todos os textos:
No princípio criou Deus os céus e a terra.
E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sob a face do abismo; e o espírito de Deus se movia sobre a face das águas.
E disse Deus: Haja luz. E houve luz.
E viu Deus que era boa a luz; e fez Deus separação entre luz e as trevas.
E Deus chamou a luz Dia; e às trevas chamou Noite. E foi a tarde e a manhã o dia primeiro.
Etc.

Tão conhecida quanto essa história é a da própria Bíblia.
Nascida no deserto com Moisés, no século 13 antes de Cristo, ela reúne uma coletânea de livros escritos por diferentes autores ao longo de vários séculos.
Os que se relacionam à aliança de Deus com o povo judeu estão no Antigo Testamento. Já o Novo Testamento apresenta os relatos concernentes à aliança de Jesus Cristo com todos os povos. O conjunto dessa obra sagrada tem exercido uma poderosa influência na literatura. Nem é preciso um grande esforço de memória para lembrar alguns títulos de romances e de contos de inspiração bíblica. Cinco casos exemplares: “Esaú e Jacó”, de Machado de Assis, “Absalom, Absalom” e “Desça, Moisés”, de William Faulkner, “O hóspede de Job”, do português José Cardoso Pires, e o recentíssimo “Caim”, da nossa contemporânea Márcia Denser.
Esse poder de sedução da Bíblia, para os escritores, se explica. Além de suas revelações, que fundamentam as crenças cristãs, nela encontram-se todas as matrizes literárias: a mítica, a trágica, a épica, a lírica, a dramática. E tudo com fabulação, estilo, uso estético da linguagem, no que se inclui a qualidade poética, sem a qual não se chega à literariedade.
Portanto, se no princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, o Verbo se fez literatura, já como uma criação do homem, a quem Deus deu a fala. E ele, o bicho-homem, fabulista, fabulador, fabuloso por natureza, da palavra falada chegou à escrita. E ela, a literatura, se desenvolveu com o próprio desenvolvimento da espécie, pela sua necessidade de contar histórias e de preservar a sua memória. Mas a literatura só ganharia existência concreta, ou seja, corpo, forma, difusão e perenidade, a partir do advento da imprensa, no século 15 depois de Cristo.
Povos primitivos já desenvolviam uma rica produção de lendas, mitos e histórias, por vezes associada à música, à dança e à dramatização, em espetáculos religiosos e profanos. E assim se formou a tradição da literatura oral, que gerou grandes poemas épicos, os textos sacros e as representações dramáticas das civilizações antigas da Europa e da Ásia. Na Idade Média, baladas, poemas, contos, gestas, adágios e adivinhações da cultura popular passaram à forma escrita, através de mãos eruditas. O avanço seguinte viria com a palavra impressa. E aqui cabe um tributo ao alemão Johannes Gensfleisch Gutenberg, o inventor dos caracteres móveis que dariam origem à tipografia, e daí às artes gráficas, à imprensa, sem as quais a indústria editorial não viria a existir.
Resultaram desse processo obras como o “Mahabharata” e o “Ramayana”, da Índia, a “Odisséia” e a “Ilíada”, de Homero, o “Edda” escandinavo, e a própria Bíblia.


Por hoje é só, pessoal.
Bjo,
dany

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