Há alguns anos atrás fui chamada para trabalhar no Festival de Teatro de Curitiba.
Como coordenadora de bilheteria (de todas as peças, centralizada num ponto de vendas) tive que contratar e treinar a equipe, coordenar as vendas na central e nos teatros e espaços alternativos, supervisionar os bilheteiros, controlar o caixa e, terminado o festival, acertar com todos os grupos que participaram do FRINGE - mostra paralela - os valores devidos, conforme borderô de cada apresentação.
Passei por experiências de todo tipo. Desde sair com a bolsa cheia de dinheiro, morrendo de medo de um assalto, até espalhar as notas na minha cama para organizá-las diante dos olhos esbugalhados e incrédulos dos meus pequenos. Entre a minha equipe, os artistas e o público, conheci diferentes tipos de pessoas e contornei situações das mais diversas.
Uma noite, no entanto, aconteceu uma cena que nunca mais me saiu da cabeça.
Eu estava enfurnada no cubículo que me cabia, mergulhada em planilhas, teclando numa calculadora de mesa que imprimia minhas contas e conferindo pela enésima vez os números do dia, quando uma das bilheteiras entrou na 'minha sala' e disse:
- Aí está a mulher que calcula....
Acordei com uma baldada de água fria do meu raciocínio, e enquanto resolvíamos os assuntos pendentes, um pensamento martelava na minha cabeça:
"Tudo o que eu nunca quis ser na minha vida foi a mulher que calcula...."
Aquela frase dita à toa ficou impregnada em mim. Passei o dia, a noite, a manhã seguinte e muitas semanas depois ouvindo aquela sentença, como uma sirene que alardeia o perigo.
Alguns meses depois eu estava determinada a me dedicar à literatura, e nunca tive a oportunidade de agradecer à minha bilheteira por sua participação decisiva na minha vida.
Todas essas lembranças, retomadas do fundo do baú, foram para contar a vocês que ontem, infelizmente, não postei nada sobre a Bienal do Livro Rio porque, de vez em quando, ainda sou a mulher que calcula.
Tem sempre o dia de colocar as contas da casa em ordem, de fazer os pagamentos do mês, imprimir comprovantes, arquivar notas, etc, etc, etc.
Ninguém escapa do seu destino.
Teimosa que sou, hoje volto a me rebelar e retomo o meu papel de, se não uma escritora publicada, uma escrevinhadora apaixonada!!!
Fiquem ligados porque as notícias chegarão.
beijo,
dany
sábado, 12 de setembro de 2009
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